Dirceu
vira réu por propinas depois de condenado no Mensalão
O
juiz federal Sérgio Moro abriu nova ação penal contra o ex-ministro José Dirceu
(PT) por supostas propinas de R$ 2,4 milhões das empreiteiras Engevix e UTC
para o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil - Governo Lula). O petista teria
recebido os valores durante e depois do julgamento do Mensalão - ação penal em
que foi condenado. Também voltaram ao banco dos réus o ex-Engevix Gerson de
Melo Almada, o irmão de José Dirceu Luiz Eduardo de Oliveira e Silva e o
diretor da UTC Walmir Pinheiro Santana.
O
magistrado, no entanto, ponderou que todos os réus nesta ação já foram
condenados na Lava Jato e decidiu suspender a ação por um ano. "Não
vislumbro com facilidade interesse do MPF no prosseguimento de mais uma ação
penal contra as mesmas pessoas, a fim de obter mais uma condenação".
"O
que é necessário é a efetivação das condenações já exaradas e não novas
condenações", afirmou.
José
Dirceu foi sentenciado duas vezes pelo juiz da Lava Jato em primeira instância
com penas de 11 anos e 3 meses e de 20 anos e 10 meses de prisão - esta última
foi aumentada, em segunda instância para 30 anos e 9 meses.
Ao
abrir a nova ação penal, Moro ressalta que 'quanto aos pagamentos da UTC a JD
Assessoria, há a prova documental e a inusitada realização de pagamentos mesmo
quando José Dirceu de Oliveira e Silva já estava condenado criminalmente na
Ação Penal 470'.
A
acusação da força-tarefa da Lava Jato foi ajuizada em 2 de maio. Além do
executivo e de Dirceu, são acusados Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, irmão do
ex-ministro; João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT; e Walmir Pinheiro Santana,
ex-executivo da UTC. O juiz da Lava Jato não recebeu a ação contra Vaccari.
Segundo
a força-tarefa da Operação Lava Jato, 'a Engevix, com a finalidade de ocultar e
dissimular a origem criminosa de recursos desviados da Petrobras, encobriu
pagamentos por serviços de assessoria de comunicação prestados no interesse do
ex-ministro-chefe da Casa Civil'.
"As
investigações ainda indicaram que José Dirceu recebeu valores da UTC Engenharia
decorrentes de crimes praticados em detrimento da estatal petrolífera. Este
repasse se deu por meio de aditivos contratuais fictícios da empreiteira com a
JD Assessoria, empresa do ex-ministro", afirma o Ministério Público
Federal.
Em
dezembro de 2017, o juiz federal Sérgio Moro levantou sigilo do empreiteiro
Gerson Almada, que foi vice-presidente da Engevix. Ele compareceu espontaneamente
à Polícia Federal no dia 4 de julho e admitiu que contratos no valor de R$ 900
mil entre a Engevix e a Entrelinhas Comunicação foram firmados de forma
'simulada no intuito de justificar pagamentos sem causa lícita'.
Almada
ainda disse que mantinha uma 'conta corrente' com o lobista Pascowitch desde
2005 para pagar propinas a agentes públicos, políticos e partidos, dentre os
quais, especificamente, José Dirceu. De acordo com o ex-vice-presidente da
Engevix, o próprio lobista sugeriu que os pagamentos fossem feitos a Dirceu.
Por
terem atingido o cumprimento máximo de pena em seus acordos de delação, parte
dos acusados não responderá por este processo. "Justificada, por outro
lado, a falta de oferecimento da denúncia contra outros envolvidos, como
Ricardo Ribeiro Pessoa e Milton Pascowitch em virtude das previsões constantes
nos acordos e o fato de já terem sido condenados, com trânsito em julgado, ao
máximo das penas previstas no acordo", anotou Moro.
COM
A PALAVRA, O ADVOGADO ROBERTO PODVAL, QUE DEFENDE JOSE DIRCEU
O
Moro recebeu a denúncia ontem e se manifestou no sentido de suspender o início
da ação por um ano face a desnecessidade de uma ação contra o José Dirceu e
outros nesse momento. A solução dada foi pitoresca, mas a princípio concordamos
com o juiz. Não há nenhuma necessidade de um novo processo agora. Para nós, não
deixou de ser mais uma vitória no caso do José Dirceu.
COM
A PALAVRA, GERSON ALMADA
A
reportagem entrou em contato com o ex-executivo da Engevix. O espaço está
aberto para manifestação.
COM
A PALAVRA, WALMIR PINHEIRO
A
reportagem não localizou a defesa. O espaço está aberto para manifestação.